segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fatalismo russo (23/11/9)

Quando a tristeza toma conta, os horizontes se perdem na escuridão, todas as certezas viram-se do avesso e você descobre que perdeu a confiança em quem mais ama, não se desespere. Respire, acenda um incenso, enfie um cotonete no nariz e entoe uma cantiga mexicana, na certeza de que isso também vai passar.

domingo, 15 de novembro de 2009

vdd

Há uns meses aconteceu uma coisa muito interessante na minha vida. Interessante no sentido de ter sido uma das minhas primeiras situações traumatizantes, dessas dignas de um bom filme de comédia. Esse tipo de experiência é muito edificante, pois se trata de uma situação extrema. Grandes homens sabem lidar com situações extremas com tranqüilidade. D:

Lá estava eu, feliz, ingênuo e satisfeito, sorriso estampado no rosto, passeando com uma amiga Era sexta à noite, e, logicamente, grupos de pessoas se aglomeravam em certos cantos, cada qual com sua cervejinha em mãos, todos felizes pela semana que acabava. Eu, um forasteiro naquele lugar, estava indo para onde minha amiga fosse, pois não sabia onde estava nem pra onde ela ia. Até aí tudo bem, estava sem rumo e confiando nela.

No meio da escuridão avistamos um grupo de seis meninas, que estavam num lugar coberto. Bacana! Vamos trocar ideia! Foi mais ou menos o que aconteceu: assuntos comuns a toda juventude brasileira, piadinhas improvisadas, besteirinhas e blábláblá, mas tudo sob um pequeno suspense pendente. Estava ciente de que era um estranho naquele grupo, por isso, fiquei na minha. Seguindo a lógica convencional, eu era um homem em situação favorável, afinal, estava no meio de várias meninas da minha idade, e isso deveria me deixar feliz. Mas, como já disse, essa história é triste.

Num certo momento, uma das garotas foi embora, sem motivo aparente. Algo me dizia que eu também tinha que sair dali. Tentei, mas não fazia ideia de para onde ir, então acabei sendo convencido a ficar. Senti que tudo estava quieto demais, e isso acabou me dando mais vontade de sair correndo. Mas não, fiquei sentado, observando as brincadeiras entre elas. Eram todas amigas tão íntimas! Davam-se tão bem! Falavam tanto, e cada vez mais baixo... Uma hora, o que minha visão periférica interpretava como um abraço afetuoso meus ouvidos desmentiram: duas delas se beijavam do meu lado.

Isso não me chocou, de jeito nenhum, pois estou acostumado com esse tipo de coisa, mas não tenho absolutamente nada contra, pelo contrário. O que me deixou assustado foi o fato de as outras quatro garotas estarem prestes a formar mais dois casais. Pelo pouco que conhecia daquelas pessoas, tinha quase certeza que isso aconteceria. Só não me ausentei antes por que eu ainda não tinha sido excluído da conversa, e sair andando naquele momento seria bem deselegante. Até porque, não sabia para onde ir.

Não demorou muito para se consumarem os três casais e eu sobrar como nunca sobrara na vida. Quando olhei a situação por fora vi um símbolo de impotência masculina, de quanto um pênis é desvalorizado hoje em dia, de como as mulheres estão cada vez mais livres e independentes. Era a concretização de um dos meus maiores pesadelos: o de sobrar. Mas isso não foi sobrar. Senti que existiam dois universos: o universo expandido, esse que conhecemos, com suas estrelas, galáxias, buracos negros, fenômenos e formas de vida; o outro universo era eu, que sobrava. Não atrapalhava nem fazia falta, só sobrava. Isso me deixou num verdadeiro estado de... reticência.

Foi lógico eu levantar e sair dali. O fato de não saber pra onde ir me fez ficar ali do lado mesmo, fora do campo de visão delas. Olhava pra cima, pra baixo, como quem está muito interessado nas estrelas e na vegetação rasteira do local.

Estava de frente para um campo enorme, tudo estava escuro e um Passat estava estacionado à minha esquerda. Estacionado! Não suspeito de carros estacionados! Mas essa história é surpreendente: do nada o vidro abaixa e um cara MUITO assustador e ofegante me pergunta “que você quer, muleque?”. Eu, sem entender porra nenhuma, respondi “nada”, e ele gritou “então vaza!”. Ele parecia realmente ser dono daquele lugar, e eu não estava a fim de causar raiva em ninguém. Quando uma situação já está ruim, não vejo vantagem em piorá-la.

É claro que eu só saí dali e fui pra uns cinco metros de onde estava, fora da visão das garotas e do cara do Passat. Fiquei sentado, olhando pra rua vazia, sem reação, sem pensamentos, torcendo pra que QUALQUER coisa acontecesse. Devo ter ficado uns dez minutos sentado, estático, me diluindo em derrota e humilhação, quando ouvi o cara saindo do carro. Olhei e o vi saindo com uma mulher lá de dentro. Confirmei minha suspeita que eu estava atrapalhando a foda deles. Agora não estava apenas sobrando, descobri que estava também atrapalhando!

Se me perguntassem o que eu faria numa situação dessas eu responderia “sairia andando pra qualquer lugar”. Mas vi que na prática as coisas mudam. Seria pior eu me perder, então preferi ficar ali parado, existindo. Não consegui sentir raiva, pois não tinha de quem nem do que sentir raiva. Não senti vergonha, nem tristeza, nem arrependimento. Fiquei esperando minha consciência me falar o que achou disso, mas antes ela tinha que parar de rir. Enquanto estava assim, senti uma mão no meu ombro direito e uma voz grossa me chamando. Pensei “legal, agora vou ser assaltado!!”. Olhei sem expressão e reconheci aqueles olhos. Era o metelão do Passat, que foi até onde eu estava para falar “não quero seu mal não, ta? Desculpa por aquilo, não quero seu mal não. Tudo bem?”.

Que fofo! Ele deve ter ficado com pena quando viu a orgia lésbica atrás de mim. Eu, no lugar dele, ficaria com pena, muita pena, ofereceria dinheiro e carona pra voltar pra casa. Mas ele só pediu desculpas, queria dormir de consciência tranquila e em paz com Deus. Eu só respondi “tá, relaxa”. Era isso o que eu pensava mesmo, só fui sincero. Não foi uma humilhação pra mim. Só foi estranho.

Quando eu estava perdido no vácuo mental, com a cabeça tocando a Marcha Fúnebre, bem baixinho, me veio uma inspiração: o Ross. Quem assiste Friends sabe quem é e entende por que ele me serviu de inspiração. Ele é um ícone de perdedor que só se fode, mas ele deixa isso extremamente engraçado. Eu estava passando por uma situação astronomicamente constrangedora, sem possibilidade racional alguma de me redimir moralmente e já resignado com aquilo. O que poderia fazer!? Chorar? Claro que não, passei longe disso. Eu achei graça, de verdade. Imaginei essa situação na pele de uma outra pessoa, e ri muito disso. Da mesma forma ri de mim mesmo. Se eu tenho tanta facilidade para rir dos outros, por que não rir de mim mesmo? O que eu tenho de diferente?

Uma hora duas das garotas já tinham ido embora, e apareceu mais um pessoal. Não lembro como, mas consegui (acho) disfarçar a situação, e todos seguiram suas respectivas vidas, inclusive eu, como se nada tivesse acontecido. Eu queria TANTO esquecer aquilo que realmente esqueci, mais rápido do que imaginava. Não guardei ressentimento nenhum com a minha amiga, pois sei que não foi maldade dela. Depois ela me disse que nem percebeu o que aconteceu.

Com essa experiência descobri uma coisa: meu orgulho é solúvel. Ainda bem!