quinta-feira, 24 de novembro de 2016

rascunho 8/9/9

Será que esse teto,
Tão frio e parado,
Acha que é certo
Um quarto tampado?

terça-feira, 15 de novembro de 2016

dissonantes

esse descompasso
causa espanto
nosso passo
só combina
em tempo fraco
nosso tema
só se afina
por acaso
você valsa
quando eu fanfarro

suas cordas se afinam
ao clangor do trombone
enquanto minha flauta
quer harpa tranquila
meu clímax
de acorde massivo
invade o longamente sustentado grave
dos seus contrabaixos
antes da abertura
da passagem lírica

eu em si maior
com cinco sustenidos
você em dó maior
sem nenhum
se eu soubesse se é bonito
tons adjacentes
porém dissonantes
talvez pudesse tirar disso
uma alegoria
mas não sei

dose

notei: minhas notas são caldeira
onde borbulha a cisma bruta —
e no condensador da fama
destila o espírito que pinga,
adocicado pelo metro,
rasgando a goela, sem sintaxe,
e inutilmente me inebria

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

pra ele

te falta esse olhar calmo, fundo, atento,
o ritmo de uma progressão lenta...
te falta tudo isso que te incomoda
em quem pertence a um mundo que não o teu
apenas por perceber diferente

te falta ser esse que você é
mas não percebe por pressa e preguiça:
a preguiça apressada de quem passa
o olho a mão a boca tudo rápido
sem sentir tudo que se tem direito

te falta, com certeza, a sutileza
o gosto pelo mínimo, a nuance
te falta a simplicidade sincera
pra rir de si e não levar-se a sério:
sentir o afeto bobo, o som piegas

te falta o incerto, a sugestão, a bruma,
o riso besta, o tumblr rosa, ouvir
a moderna música brasileira,
ler com calma um poema muito ruim
e, sinceramente, apenas senti-lo...

sentir... te falta aprender a sentir,
ou reaprender a não pensar muito:
perceber. olhar. criar com o olhar.
notar os perfumes. os sons. as cores.
calmo. fundo. atento. enfim: com amor

caridades

ajudai-me a distinguir
caridade sem interesse
de quem não quer nada em troca
dessa carência vaidosa
de quem busca afeto alheio
através da gratidão