sexta-feira, 28 de julho de 2017

samtosha

curta sua tristeza
ela vai passar uma hora
com toda certeza

kama

"você, ao quê veio?"
não vim pro mundo a passeio
(mas tem o recreio)

6:34

o céu me convida
claro frescor matinal
dou bom-dia à vida

se me perguntarem
"qual é o sentido da vida?"
respondo: pra cima

bonete

lógica das ondas
deslumbramento deífico
urubu pousou

incomunicabilidade

no fundo no fundo
tá cada um na sua brisa
quer queira quer não

brahmacharya

fico melhor
quando fico pra cá
de baguidá

prakriti

tudo é sempre novo
do atômico ao macrocósmico
a mente não pára

empatia

em terra de sapo
(disse minha vó sobre os loucos)
de cóc'ra com eles

chicão

e o bico foi lá

brucutu e pá
e bola

bicando

sombrinha no furo
morcego é só um beija-flor
que gosta do escuro 

diário

forro a mente em sala
esboço um haikai no almoço
limo o metro em casa

mímesis

quero-quero grita
chei de vontade dos ôtro
papagaio imita

bibliofilia

gosto de te ter assim
firme nas duas mãos
te abrir no meio
sem medo de manusear
sem pudor de amassar
sem frescura de envergar 
sem dó de machucar
um pouco
dobrar riscar manchar 
penetrar suas entrelinhas
interpretar seus períodos
e te encher de sentido meu
de marcas minhas
com a indelicadeza devida
à sua ânsia de ser devorado
usado
objeto meu
papel-carne
que é pó
e serve aos tesões 

respeito devo apenas
à tua alma-texto
e às marcas fundas
perenes
que essa troca intensa
deixa em mim

domingo, 9 de julho de 2017

cronos

einstein ou hesíodo 
tempo é como o espaço muda 
num curvo pensar 

sexta-feira, 7 de julho de 2017

clonazepam

suave narcose
tórpida paz numa eufórica
volúpia ansiolítica 

quarta-feira, 5 de julho de 2017

🚲

um rabo d'ôio nas coisa
um queria ser que não é
ôôô mas isso ecoa

terça-feira, 4 de julho de 2017

fanfic

se creio em algo? sim e não. sou adepto
do neo-vedanta afro-nietzscheano:
creio na coragem moral, no virya
do espírito livre dono de si
e na imanência do som do atabaque 

por ser fiel ao sentido da terra,
só creio no meu corpo e no que sinto:
por isso creio no brilho de ajna,
no som da kriya e no peso do braço
que some na dança da gira de índio 

creio na leveza que eclode em mim
nos momentos de ishvarapranidhana
e nas pazes que fiz comigo mesmo
ao negar qualquer "tu deves" postiço
e impor a ordem que quero ao que faço

creio na gaia ciência do yoga!
yamas: cinzel que esculpe a vida bruta
com a disciplina rígida do artista
niyamas: quartel general da vontade,
impio Arjuna gladiador de Chronos 

sou fiel à minha águia e à minha serpente 
— a intuição e o ceticismo de um jnanin — 
creio no rigor lógico do Samkhia,
na moral sem moralina do Advaita
no "tenha força!" que ouvi de Seu Antônio

ah! tivesse Nietzsche ido num terreiro!
todos seus ditirambos dianisíacos
seriam pontos de baiano e caboclo
ah! se no caminho de Zaratustra
tivesse aparecido um preto velho!

ah! tivesse Nietzsche tido um guru!
seu Inaudito não seria um mistério
e toda sua busca teria um norte
ah! se no caminho de Zaratustra
tivesse aparecido algum sadhu!

creio num viver vigoroso e calmo,
na potência do eterno "sim!" à vida.
creio no que me empodera e embeleza.
se tudo no mundo, no fundo, é incrível,
em qual absurdo você quer crer?  

yogasutra ||1.2||

não manjo de metrificação sânscrita
mas o segundo verso do Yogasutra

योगश्चित्तवृत्तिनिरोधः
(yogaś-citta-vr̥tti-nirodhaḥ)

acho que, recitado, é um decassíabo,
e significa "yoga é a cessação
dos movimentos ativos da mente"
ou "dos redemoinhos da consciência",
ou, pra manter o metro, pode ser
"yoga é o cessar dos turbilhões da mente".
mas também gosto de haikais, então

योग
श्चित्तवृत्ति
निरोधः 

suprema união:
os vórtices da consciência  
serem suprimidos 

humilitas

lembrai:
a verdadeira grandeza
é chã

segunda-feira, 3 de julho de 2017

zwangsneurose

cisma tosca e burra
espoca e ecoa no oco
da mente casmurra

eterno retorno

era isso a vida?
— hei de dizer eu à morte —
pois bem! outra vez!

metamorfoses

camelo no ermo
leão ruge o sacro "não"
e brinca a criança

zarathustra

ardoroso e forte
qual claro sol matinal
sai de sua caverna

dhyana

tráfego indiano
perceba a ordem no caos
por trás do som: paz

sábado, 1 de julho de 2017

single

narciso sem eco
reflexo em espelho convexo
erosão do ego