sexta-feira, 28 de julho de 2017

bibliofilia

gosto de te ter assim
firme nas duas mãos
te abrir no meio
sem medo de manusear
sem pudor de amassar
sem frescura de envergar 
sem dó de machucar
um pouco
dobrar riscar manchar 
penetrar suas entrelinhas
interpretar seus períodos
e te encher de sentido meu
de marcas minhas
com a indelicadeza devida
à sua ânsia de ser devorado
usado
objeto meu
papel-carne
que é pó
e serve aos tesões 

respeito devo apenas
à tua alma-texto
e às marcas fundas
perenes
que essa troca intensa
deixa em mim

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