sexta-feira, 26 de março de 2010

Sobre água e preocupações (26/03/10 22:22)

Normal passar meses sem escrever e depois voltar do nada. Em cinco meses uma cabeça pode mudar muito, muitas coisas podem acontecer, pessoas entram, saem, amizades começam, acabam, recomeçam, reacabam, casais terminam, casais se formam, a ideia se abre, se tranca, muda... Tudo sempre muda e se adapta de acordo com seu ambiente, tal qual a sábia água.
O ciclo natural é a constante mudança, sempre um dia após o outro, um fato após o outro, uma experiência após a outra, uma amizade após a outra. Parar em algum ponto é perigoso, pois estaguina e sobrecarrega. Quando queremos repetir uma mesma experiência várias vezes, ela pode ser boa todas as vezes, mas não temos sempre a mesma sensação, pois todo o prazer que sentimos cada uma das vezes é apenas uma tentativa nostálgica de reviver a primeira vez. Por isso é bom mudar, sempre mudar, para que a vida flua. Uma coisa é certa: se nada muda, nada de diferente vai acontecer.
Existe a situação de duas pessoas escolherem se prender uma à outra, por livre e espontânea vontade, a fim de suprir um desejo recíproco e insano. Para uns, relacionamento conjugal é uma prisão; para outros, é a prova de que se é livre para ficar o tempo que quiser com quem quiser. Há tantos casais que um dia se amaram muito, e ainda se respeitam muito, mas não querem mais um ao outro, e assim mantêm no subconsciente um jogo de gentilezas, que cria um script de 'casal perfeito' a ser percebido por quem observa de longe. O que fazer depois que se está preso a uma corrente de reciprocidade gentil e afetuosa? Nunca vai-se querer falar a verdade se ela não for agradável, e por isso cria-se uma película de falsidade em cada atitude das duas pessoas, até que alguma resolva falar o que pensa, aí acaba a hipocrisia e começa a treta. Não há saída sem que alguém saia magoado. A hora em que algum dos dois parar para pensar só em si por um instante, vai acabar chateando quem está esperando pelo carinho diário, o que causa muita tristeza.
Por isso, o que mais desespera na boa convivência com a pessoa que você ama é o fato de não dar para saber o que ela pensa, pois ela nunca vai querer te magoar com palavras, portanto poucas vezes vai dizer o que de fato pensa a respeito das suas atitudes erradas. O que é falado e o que é pensado distam quilômetros entre si.