terça-feira, 9 de maio de 2017

pōemar-se

o que é poemar-se? é assimilar
função poética
à percepção:
é notar sentido e som combinados
indissoluvelmente nas palavras,
num certo ritmo, com certo
tom

                                    é explodir
o sentido
que há nas coisas
como quando alguém deixa cair a luva
no chão de algum museu de arte moderna
e eruditos analisam pensando
ser uma obra de arte
conceitual

                                    é ouvir
em "ruflar de asas"
o som de asas batendo,
e em "incensário incensa o incenso"
ouvir o som do incenso
que em seu sibilar silencioso e calmo
desenha um S de fumaça
no ar 

                                     é explorar
às últimas consequências
as implicações
mito-filosóficas
da polissemia onomatopeica
que há no tinir da xícara no pires
e sua influência no gosto
do chá

                                    é notar
que nosso vocabulário
é uma ornamentação
de metonímias
e metáforas moldadas 
em aparelhos fonadores e cérebros
de séculos e séculos e séculos
e séculos 

                                   é ter por norte
a lógica
do afeto,
ler a gramática das sensações
e usar a sintaxe caleidoscópica
das emoções inéditas
confusas que nascem no peito e
morrem na goela

                                   é fumar
maconha
e viajar na almôndega,
dropar um doce e ver um basilisco
ou não tomar nada e só imaginar
com o olho lúdico de uma criança
que cria seu mundo
poeticamente 

Nenhum comentário:

Postar um comentário