segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Hoje

Só mais um dia de férias (férias prolongadas por causa de uma marolinha de Influenza A), uma segunda-feira com a tranquilidade de um sábado e a melancolia de um domingo. Acordei, conferi a claridade da veneziana e constatei que já não era tão cedo. O celular marcava 11:11, mas esse tipo de coincidência já não me surpreende mais.

Abri a janela, respirei fundo, estiquei os braços, limpei os olhos, coloquei o travesseiro de pé na cabeceira, me encostei, ajeitei as cobertas e mergulhei em devaneios fúteis. Em pouco tempo adormeci de novo, naquela sonolência que traz os sonhos mais vívidos.

Acordei novamente à uma e pouco, e minhas costas já doíam. Foi a culpa por dormir tanto que me fez pular da cama bruscamente, surpreendendo meu sistema vascular, que jogou minha pressão lá pra baixo. Corri o risco de desmaiar e bater com a cabeça em alguma quina, mas já me acostumei tanto com essa situação que me divirto com ela, me equilibrando na semi-consciência de quem está prestes a desfalecer. Isso dura uns dez segundos, e dá uma vertigem deliciosa.

Pedi para meu pai voltar a música que acabara de tocar na sala, "Por Você", do Pato Fu. Estava sonhando com o show da banda, pois o DVD deles estava tocando a manhã inteira. Fiz reflexões profundas nessa música enquanto comia mecanicamente meu cerimonioso cereal matinal. Andei pra lá e pra cá, conversei com meu pai, conversei com a cachorra, brinquei com meu pai, brinquei com a cachorra, entrei no MSN, Orkut, blogs, notícias... nada de novo, só algumas risadas. A única pessoa que poderia dar algum sentido pra esse meu começo de dia não estava online. Por isso comecei a pescar qualquer coisa que me entretesse, como, por exemplo, ler uma crônica da Clarice.

Estava lá, lendo, feliz da vida, quando meu pai pergunta:
-Você não quer comer?
-Não, ainda não to com fome.
-Tem comida na geladeira, a comida de ontem, é só esquentar.
-Tá, depois eu como, agora ainda não to com fome. Mas ultimamente eu to tendo muita fome, estranho, acho que engordei um quilo essas férias, vou me pesar.
-Tem uma balança no meu quarto.
-Ok (como se eu não soubesse da existência da balança).

Levantei num salto, esqueci completamente do texto e fui até o quarto me pesar: exatamente o mesmo sub-peso de dois anos atrás, sem nenhuma grama a mais nem a menos. Agora eu não sei se fico feliz ou desesperado, por que eu passei um mês inteiro numa larica constante, comendo que nem um obeso compulsivo, e quando espero receber a recompensa em massa corporal, o ponteirinho bate na mesma infeliz marca de 55kg! Peso de moça, você tem que concordar. Pro meu tamanho, isso não é normal. Anyway...

Depois disso, fui voltar a ler o texto, mas quando sentei, esqueci o que estava fazendo e fui verificar meu Orkut. Como sempre, nada. Revi o que já tinha visto de notícias, e tive vontade de tomar café. Digo: mais café, pois até lá já tinha tomado meio litro. Retornei à Clarice, mas logo abandonei, pois senti vontade de tomar banho. Não tenho o hábito de tomar banho no meio da tarde (sempre deixo pra noite). Mas simplesmente tive vontade de tomar banho! Foi o que eu fiz.

Meu pai tinha saído e meu irmão estava no interior. Pensei em como aproveitar essa liberdade. O que se faz quando está sozinho em casa? Sexo, drogas e rock 'n' roll? Bem, não tinha ninguém pra fazer sexo, nem estava no pique de ver pornografia; quanto às drogas, não tinha nenhuma disponível; e rock 'n' roll... não, o silêncio é uma virtude de quando a casa está vazia. Passei a tarde conversando bobagens no MSN.

Fazia tempo que eu não deixava de fazer uma coisa e ia fazer outra assim, do além, de livre e espontânea vontade, como eu fiz várias vezes hoje. Parece uma grande bosta, completamente irrelevante, mas pra mim é estranho. Sinto que mudei de uns tempos pra cá. Estou mais solto, mais leve. Ainda não sei o motivo, e não quero saber.

Esse é o segredo: não saber.

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